Boa noite, colegas:
Estou apresentando uma crônica do jornalista David Coimbra, que foi publicada no jornal "Zero Hora" de hoje, dia 17.5.07, que achei muito legal. Espero que vocês também gostem!
ELAS SÃO ENTERRADAS, ELAS NUNCA VOLTARÃOVi 1.300 pessoas em silêncio compassivo, esta semana. Cena impressionante. Mil e trezentas pessoas tocadas por um suave sentimento de tristeza devido a algo que disse o professor Ivan Izquierdo no curso Fronteiras do Pensamento. Tenho pensado naquilo, desde então.
Alguém perguntou ao professor, ele que é doutor em memória, por que os velhos lembram com nitidez dos acontecimentos remotos e esquecem os recentes. O professor disse que a ciência não tem explicação para isso, mas arriscou uma suposição: as pessoas recordam com mais pormenores do tempo em que foram mais felizes. E a felicidade é tanto maior quanto menores forem as perdas de alguém. Isto é: o tempo passa e o homem vai envelhecendo, vai deixando de fazer coisas que antes fazia, simplesmente porque agora não pode mais fazer. O corpo já não permite. Mas o pior, a grande dor, são as pessoas, e até os animais, que se apartam do homem no decorrer da sua vida.
- O velho vê as pessoas que ele ama desaparecerem. Elas são enterradas. Nunca mais voltarão - disse o professor Izquierdo, e foi nesse momento que senti uma aragem de nostalgia envolver os 1.300 espectadores instalados no auditório da Reitoria da UFRGS.
Ou talvez tenha sido impressão minha, talvez só eu e os que estavam no entorno tenhamos sentido a densidade daquelas palavras. Seja. O importante foi o significado do que ele disse. As pessoas são enterradas, elas nunca mais voltarão.
Saí de lá pensando em todas as pessoas que já não fazem mais parte da minha vida. Não só as que foram enterradas, mas também aquelas que a vida mantêm distantes. Como amo todas essas pessoas. Tanto quanto as amei quando falávamos, ríamos ou brigávamos juntos. Como sinto falta delas, e não foi só naquela noite, na Reitoria, que senti. Não. Volta e meia lembro de um sorriso de alguém que já se foi, ou de um jeito de falar de alguém que não vejo mais, ou de um brinde, uma gargalhada, uma frase, um beijo. Será que eles lembram de mim? Será que também sou pedaço da memória de alguém? Será que um dia vou encontrá-los outra vez? As perdas do caminho. As perdas. Por que é que tem que ser assim?