Jornal Zero Hora - 24 de outubro de 2008 - N° 15768
Memórias do tempo do admissão
Carlos Urbim e Zoravia Bettiol autografam hoje o livro “Admissão ao Ginásio”
No primeiro dia de aula da 5ª série, a professora tira da pasta Admissão ao Ginásio e avisa aos alunos que, até dezembro, eles vão ter de saber de cor e salteada cada linha do livro. Pânico, tremedeira, pressão. O ano era 1959, e as crianças, com idades entre 10 e 12 anos, precisavam estudar o volume para passar nos exames orais e escritos a que eram submetidos aqueles que entrariam no ginásio. Todas as escolas públicas e privadas aplicaram os testes durante 40 anos – entre 1931 e 1971.
A angústia foi transformada em livro pelo jornalista e escritor Carlos Urbim. Admissão ao Ginásio (Escritos, R$ 40), com ilustrações da artista plástica Zoravia Bettiol, terá sessão de autógrafos hoje, às 18h, na Palavraria (Vasco da Gama, 165).
Em 88 páginas, o autor relata os calafrios vividos pelo protagonista Carlos e sua turma de colégio no final da década de 1950. No rádio, se ouviam bossa nova, marchinhas de Carnaval e notícias sobre a Revolução Cubana e a construção de Brasília. O Brasil ainda entoava “A Taça do Mundo é nossa, com os brasileiros não há quem possa”, em comemoração ao primeiro título mundial conquistado pela Seleção, em 1958. A revista O Cruzeiro estampava capas de misses, da corrida espacial e do programa para desenvolver o país, de JK. Nesse turbilhão, o protagonista tentava se concentrar para aprender notações léxicas, tempos verbais, operações matemáticas e movimentos da Terra.
– Uma das minhas intenções é mostrar aos jovens do que eles se livraram. O exame não deixava de ser um vestibular, só que se colocava a responsabilidade em crianças de 10, 11 anos – afirma Urbim. – A pior coisa para qualquer um era ter de repetir a 5ª série.
Um dos mais importantes autores infanto-juvenis do Estado, Urbim, 60 anos, já pensava em escrever sobre o assunto desde que publicou Goma Arábica, em 2004. Para dar exemplos das perguntas e dos conteúdos que caíam nas provas, ele foi atrás do Admissão ao Ginásio original, o livro utilizado por todos os alunos na época. Encontrou um exemplar em um sebo de Belo Horizonte e o usou como referência. O autor contou com o trabalho da artista plástica Zoravia Bettiol para ilustrar o texto. Fotos marcantes da época receberam lápis de cor, e alguns desenhos de Carlos e família tiveram colagens aplicadas.
– A história me arrastou porque tem muita ternura e delicadeza. Procurei desenvolver um universo bem lúdico. Fiz intervenções nas fotos, mas sem esquecer de manter a unidade com os desenhos – diz Zoravia, lembrando que quando fez o seu exame não o achou tão apavorante como o personagem Carlos.
Além da sessão de autógrafos de hoje, a dupla assina os exemplares de Admissão ao Ginásio na Feira do Livro, no dia 3 de novembro, às 17h, no Cais do Porto. No evento, Urbim também lançará Na Noite Estrelada (Edelbra), dia 2, às 15h30min, na Praça da Alfândega.