14 junho 2009

Reencontro de colegas - Uma amizade sem fim

Achei a reportagem transcria abaixo e penso que ele tem muito a ver conosco!

Reportagem publicada no jornal "Zero Hora" do dia 14 de junho de 2009 (domingo) - páginas 30 e 31:

REENCONTRO DE COLEGAS
Uma amizade sem fim

Em 1977, quando se formaram no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, Maria Isabel Santos, 49 anos, e Manoel Inácio Martins, o Maneca, 50 anos, tomaram rumos diferentes. Três décadas depois, em um encontro com os antigos colegas em um café, eles não apenas voltaram a se ver, como também se apaixonaram. Hoje, estão noivos.
Passados tantos anos, o casal ri das coincidências que a vida armou. Por pouco, Isabel e Maneca ainda poderiam estar separados – como acontece com muita gente que, depois da cerimônia de formatura, perde o contato com os colegas.
Os rompimentos, muitas vezes involuntários, podem ser definitivos em alguns casos. Apesar disso, para a psicóloga Myrna Cicely Couto Giron, do Instituto de Terapias Integradas de Porto Alegre, nunca é tarde para a reconstrução de velhos laços de amizade.
– É provável que os ex-colegas que não vemos mais também sintam saudade. Partilhamos com essas pessoas um tempo feliz, por isso é tão importante para muita gente retomar esses vínculos – avalia Myrna.
Isabel e Maneca que o digam. Eles integravam duas das 14 turmas que se formaram em 1977 no Anchieta. Com o certificado de conclusão em mãos, ganharam o mundo. Maneca se tornou agrônomo e acabou na Bahia. Isabel cursou Jornalismo e rodou o Brasil. Somente em agosto passado, no bistrô que ela abriu na Capital com o sugestivo nome de Café 77, a história mudou. Ao cruzar os olhares mais uma vez, eles imediatamente se reconheceram.
– Nos tempos de colégio, eu sempre ficava olhando quando ela ia para casa. Existia uma certa atração, mas nunca aconteceu nada – recorda Maneca.
Não demorou muito para que os dois começassem a namorar. Em janeiro do ano passado, com o apoio dos amigos da época de escola, Isabel e Maneca trocaram alianças de noivado.
– Ainda não marcamos a data do casamento, mas com certeza vamos fazer uma grande festa, com todos os nossos ex-colegas do Anchieta junto – garante Isabel.
O desfecho dessa história de amor digna de cinema é motivo de orgulho entre os anchietanos formados em 1977. Desde que organizaram um baile, em 1997, quando completaram 20 anos da formatura, eles não se distanciaram mais. De lá para cá, criaram um site próprio e comemoraram os 25 e os 30 anos da conclusão do Ensino Médio. Não contentes, estão planejando mais um evento, para julho deste ano, que promete emocionar. A ideia, segundo o empresário Marcos Daudt, 49 anos, é chamar um grupo de ex-professores para ministrar mais uma aula, como nos velhos tempos.
Depois de 25 anos, grupo voltou a se encontrar
Atividades desse tipo, tanto quanto as tradicionais festas de reencontro, são mais do que artifícios para resgatar amizades, na opinião do psiquiatra Alfredo Cataldo Neto, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
– Se ao final da faculdade ou do colégio, as festas são uma maneira de elaborar o luto da separação, os reencontros são uma forma de buscar nos colegas a nossa própria história – explica Neto.
Em novembro passado, ex-colegas da turma de Enfermagem e Obstetrícia formada em 1983 na Universidade de Caxias do Sul (UCS), na Serra, sentiram isso na pele. Depois de 25 anos de afastamento, eles deixaram suas casas, em vários cantos do Estado, e voltaram a se encontrar em um evento com direito a homenagens especiais, presença de antigos mestres e boas-vindas do reitor.
Ao recordar os tempos da faculdade, muitos choraram. Ao final, segundo uma das organizadoras do evento, a professora Nilva Lúcia Rech Stedile, 47 anos, os novos velhos amigos decidiram que não vão se afastar:
– Foi tão bom, que já começamos a pensar na festa dos 30 anos de formatura. Agora que nos encontramos, não queremos mais perder o que recuperamos.

Juntos desde 1970
O dia 4 de dezembro é sagrado para um grupo de médicos gaúchos formados em 1970 na UFRGS. Todos os anos, nessa mesma época, os ex-colegas de turma se reencontram para comemorar a formatura, relembrar antigas histórias e, principalmente, reforçar velhos laços de amizade.
Fazem parte dessa confraria alguns dos nomes mais conhecidos da medicina gaúcha. Desde o início, segundo o cardiologista Fernando Lucchese, 61 anos, a empatia entre eles foi tanta que os jovens aspirantes a doutores não se desgrudaram mais.
– Fazemos questão de nos manter unidos – diz o epidemiologista Jair Ferreira, 61 anos.
Quando o assunto são as festas de reencontro, o líder da turma desde os anos 70 é o cardiologista Sérgio Vasconcellos Dornelles, 64 anos. Segundo os colegas de bisturi, é ele quem puxa a frente na organização dos encontros – que acontecem no mínimo uma vez por ano. Em seu apartamento, Dornelles guarda um livro de presenças, no qual registra as festas da turma, desde o princípio.
– Isso também é história – ensina.
História, aliás, é o que não falta a esses médicos – e elas volta e meia reaparecem nas festas anuais. Certa vez, no início da faculdade, os inseparáveis amigos participaram de um curso de primeiros socorros. Ferreira lembra que, para aprender a aplicar injeções, tiveram de treinar um no outro, enchendo seringas com água destilada.
– A enfermeira mandou um colega aplicar a injeção e aspirar. Em vez de mexer na ampola para ver se tinha ar, ele encheu os pulmões. Todo mundo riu – conta Ferreira, preservando a identidade do fanfarrão.

A prova de anatomia copiada
O epidemiologista Jair Ferreira é quem entrega um dos episódios mais comentados pela turma nos seus reencontros.
Em 1967, os universitários andavam preocupados com uma prova de anatomia patológica e decidiram organizar um plano engenhoso para ter acesso às questões. Sabendo que a secretária do curso saía sempre às 16h para tomar café, um dos alunos pulou a janela da sala da funcionária.
Enquanto isso, outros estudantes ficaram de guarda e um terceiro grupo foi até o balcão do bar para retardar o retorno da mulher.
– Graças a essa ação perfeitamente coordenada, o colega invasor conseguiu copiar 20 das 25 questões da prova e safar-se a tempo. Para admiração dos nossos professores, todos tiraram mais que oito naquela prova. Eu fui um deles – confessa Ferreira.

Lições de Jalaô e Nicodemo
Um outra tradição dos reencontros da turma de 1970 é entoar o hino da faculdade. Inusitada, a letra da canção faz referência a Nicodemo e Jalaô, que seriam dois antigos cadáveres usados nas lições de anatomia.
– Tínhamos muito carinho por eles. Acho que foi ali que aprendemos a respeitar nossos pacientes – relembra o cirurgião José Camargo, 62 anos, diretor médico do Hospital Dom Vicente Scherer.
No que depender de Camargo e dos formandos de 70, Nicodemo e Jalaô jamais serão esquecidos. Em dezembro deste ano, quando a turma completar 39 anos da formatura, os nomes dos dois velhos conhecidos provavelmente serão entoados mais uma vez, em mais um reencontro.

Para matar três décadas de saudade
Como naquelas festinhas de garagem que a turma costumava realizar no final da década de 70, os homens chegam primeiro e ficam encostados no balcão. O som ambiente no restaurante do bairro Moinhos de Vento, na Capital, em nada lembra o das Frenéticas que os embalava na época em que frequentavam o Colégio São Pedro, no bairro Floresta, mas a expectativa é tão grande como era a espera por aquele beijo roubado ao fim da noite.
Trinta anos depois de se formarem no 3º ano do então chamado 2º Grau (hoje Ensino Médio), em 1979, o servidor público Rogério Paranhos, 46 anos, e o mecânico de manutenção Hildor Horwarht, da mesma idade, preparam-se para reencontrar pela primeira vez os colegas da turma 233.
Quando as primeiras colegas aparecem, às 20h, têm dificuldades para reconhecê-las. Elas se esforçam para reconhecer aqueles senhores de cabelos brancos, com barriguinhas salientes. Puxam referências da sala de aula.
– Eu sou aquela quietinha – diz uma delas.
– Eu sou aquela que sentava na parede – ajuda outra.
– Eu era o pegador, o dono da garagem – brinca um terceiro.
Meia hora depois, com a maior parte da turma reunida, parecem íntimos outra vez. Com uma cópia da lista dos colegas da época, o professor de química aposentado Fábio Bohrer, 56 anos, faz a chamada. Dos 38 alunos, 25 estão presentes. Outros, como Aurélio Gimenez, que mora no Rio, mandaram mensagens.
Ao ser chamado, cada um conta em três minutos o que fez nesses 30 anos. Antonio Manfrim, que chegou a ser expulso pelo ex-professor no primeiro dia de aula por estar de empurra-empurra antes de entrar na sala, virou engenheiro eletrônico. Paula Mastroberti, que ganhava concursos literários e adorava desenhar, é escritora e artista plástica.
– Lembro que o professor de português dizia: vocês não passam de moluscos morais, seus burguesinhos bem nutridos. E de certo modo ele tinha razão, éramos muito alienados – diz ela, que como os colegas cresceu sob o cerco da censura e foi conhecer as lutas pela abertura política e a anistia durante a faculdade.
A ideia do encontro foi do advogado e empresário Daniel Casco, 47 anos, que em três décadas sempre manteve a lista de chamada e uma foto da turma em sua agenda.
– Eu aprendi o que era amizade com essa turma – emocionou-se.
O reencontro serviu também para revelar o mais bem guardado segredo da turma. Foi ali que a dona de casa Silvana de Paula Maria da Silva, 48 anos, finalmente descobriu quem foram os cinco sacanas que ergueram seu buggy e o inverteram de posição na garagem da escola.
– Fizemos tudo rapidinho e deitamos o cabelo – confessou o economista Alceu Marques, 47 anos.

Espaço para formaturas e reencontros
A partir desta semana, as cerimônias de formatura e as histórias de reencontro de colegas terão um espaço especial em Zero Hora.
No jornal impresso e na internet, uma coluna e um blog estarão permanentemente abertos aos leitores, para que enviem textos e fotos desses momentos especiais.
O material será publicado todas as quartas-feiras no caderno Vestibular, que passará a circular com uma nova seção, e diariamente no Blog das Formaturas, em www.zerohora.com. Valem desde imagens recentes até fotografias de solenidades ocorridas no passado – tanto na conclusão do Ensino Médio quanto na entrega do diploma de graduação e nas tradicionais festas de reencontro.
Também poderão ser incluídos relatos pessoais e histórias curiosas.
Se você quer dividir a emoção vivida nessas ocasiões, mande o seu recado em um texto de até 20 linhas e uma foto para o endereço: www.zerohora.com/blogdasformaturas.