Governo dificulta a entrada de produtos argentinos na tentativa de fazer país vizinho liberar as mercadorias vindas do Brasil
Aumenta a pressão do governo brasileiro para a Argentina derrubar as
barreiras à importação. Nos últimos dias, alimentos vindos do principal
parceiro do Mercosul passaram a enfrentar mais dificuldade para ingressar no
Brasil.
A retaliação é postura similar à adotada pelo país vizinho ante produtos
como calçados, móveis, máquinas agrícolas e alimentos industrializados
fabricados no Brasil. Hoje, 40% das mercadorias vindas do país vizinho não
recebem licenças automáticas – registro simples no sistema de comércio exterior
–, e muitas delas têm enfrentado mais do que os 60 dias determinados pela
Organização Mundial do Comércio (OMC) para serem liberadas. É o caso de vinho,
pera, maçã e batata, entre outros.
– Muitos desses produtos não estão entrando no Brasil. Resolvemos frear
a importação para ver se a Argentina resolve logo esta situação – explica uma
fonte de alto escalão do governo.
Em reunião entre o governo argentino e o Ministério de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior no início de junho, em Buenos Aires, o ministro
do Interior do país vizinho, Guillermo Moreno, teria acenado com o interesse de
acabar com as dificuldades nas importações.
O governo brasileiro entende que haverá avanço nas discussões em uma nova
rodada de negociações marcada para segunda e terça-feira da próxima semana em
Mendoza, em que o Brasil será representado pela secretária de Comércio Exterior
do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres. Otimista com o encontro, o
Brasil não cogita medidas mais duras contra a Argentina, como retaliações à
importação de bens industrializados ou denúncia à OMC.
– Preferimos acreditar em um acerto. No mês que vem, deverá ser liberado
o fluxo comercial normal entre os dois países – afirma Alessandro Teixeira,
secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento.
A expectativa é que os produtos já vendidos por empresas brasileiras,
mas ainda presos a exigências burocráticas, sejam liberados imediatamente. Mas
nem todos os envolvidos com o assunto entendem que a retaliação é o melhor
caminho, como o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral (leia
entrevista abaixo).
Fiergs debate hoje as perdas com as barreiras comerciais
Como resultado das medidas protecionistas, as exportações do Rio Grande do
Sul à Argentina caíram quase 11% de janeiro a maio em relação ao mesmo período
do ano anterior, enquanto as importações encolheram 2,8%. As empresas gaúchas,
que têm no mercado vizinho um importante destino de suas vendas, são
especialmente afetadas.
Na unidade da fabricante de alimentos Oderich em São Sebastião do Caí,
150 mil caixas com enlatados de milho e ervilha aguardam revisão do governo
argentino de uma norma que obrigou as empresas do Brasil a contratar
importadores para chegar até o mercado local. As cargas paradas valem R$ 2,5
milhões.
– Caso se mantenha a determinação, teremos de fazer todos os rótulos
novamente e arcar com os custos de um intermediário. Perderemos muita
competitividade – afirma Marcos Oderich, diretor da empresa. Se exigência argentina permanecer, Oderich terá
de refazer rótulos em enlatados retidos antes de embarcar.