Esta crônica, escrita por Kledir Ramil e publicada no jornal "Zero Hora" do dia 21 de julho de 2008, me lembrou quando fiz um curso de datilografia em São Leopodo, nos idos de 1972. Recordo que era tempo de eleição e que eu via a propaganda política, que passava na televisão, por volta de 13h, através da janela do curso!
Não sei se você já viu uma máquina de escrever. Já expliquei em outra oportunidade, mas vou repetir. É, tipo assim, um equipamento mecânico que se usava na antigüidade para escrever palavras. O princípio era o mesmo dos computadores de hoje, um teclado onde a cada tecla corresponde uma letra do alfabeto. A diferença é que, em vez de o texto surgir como mágica na tela LCD, na máquina era possível ver e entender o funcionamento. Cada tecla impulsionava uma alavanca, que movia um braço de metal, que empurrava uma pequena letrinha de ferro, em alto relevo, na direção de uma fita de tinta preta. Algumas mais sofisticadas vinham com uma opção de cor vermelha. Por trás dessa fita, era colocada uma folha de papel em branco, sobre a qual iam sendo impressas as palavras, letra por letra. Simples.
Caso você cometesse um erro, tinha que começar tudo de novo. Não havia "delete". Mas tudo bem, naquela época as pessoas tinham tempo de sobra.
Para conseguir operar tal equipamento, era preciso dominar a datilografia. Datilografia era a arte - ou seria a ciência? - de bem escrever à máquina. Eu fui iniciado na velha Underwood do meu pai, através de um método empírico conhecido pelo nome de "catar milho", que utilizava apenas os dois dedos indicadores. Ou "fura-bolos", se você preferir. Aos poucos minha técnica foi evoluindo e acrescentei ao processo o "seu vizinho", o "pai de todos" e, eventualmente, o "mata piolho". Desenvolvi uma performance razoável, mas nunca chegarei à destreza de alguém que tenha feito curso de datilografia, que, acredite se quiser, é capaz de escrever 300 caracteres por minuto, usando os dez dedos das mãos. Sem olhar o teclado.
Naquele tempo, para ser uma boa secretária era preciso saber datilografia, além de inglês, francês, espanhol e, obviamente, português. Como eu não tinha nenhuma intenção de ser secretária, não dei a devida importância ao estudo da datilografia e, de castigo, continuo até hoje catando letras como se fossem grãos de milho.
Tentei convencer meus filhos a estudar datilografia, para que pudessem estar mais bem preparados para a vida. Riram de mim, pois não se fala mais datilografar e sim digitar. E mais, não estudam e digitam numa velocidade astronômica. O que só confirma minha tese sobre a evolução das espécies: diferente de nós, essa gurizada já veio de fábrica com um processador Core 2 Duo.
22 julho 2008
18 julho 2008
Da caixa de guardados
Crônica escrita por Liberato Vieira da Cunha e publicada no jornal "Zero Hora" do dia 18 de julho de 2008.
Há pessoas que colecionam amores, notas de cem, carimbos de passaporte. Eu há muito coleciono frases que gostaria de ter escrito.
Sobre a felicidade. "Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente." (Erico Verissimo)
Sobre o passado. "É o futuro, usado." (Millôr Fernandes)
Sobre o futuro. "Tenho, às vezes, saudades do futuro." (Teixeira de Pascoaes)
Sobre a saudade. "Que me quereis, perpétuas saudades? Com que esperança ainda me enganais?" (Camões)
Sobre a paixão. "Nós só conhecemos as paixões dos outros, e o que chegamos a saber das nossas, é deles que pudemos saber." (Proust)
Sobre a sabedoria. "Deus conceda sabedoria aos que já a possuem e permita que os tolos se valham de seus talentos." (Shakespeare)
Sobre o tempo. "Perdido está todo o tempo que em amor não se gasta." (Tasso)
Sobre o amor. "Distante o meu amor, se me afigura / O amor como um patético tormento / Pensar nele é morrer de desventura / Não pensar é matar meu pensamento." (Vinícius de Moraes)
Sobre o pensamento. "Os pensamentos são tentações; são as que nos vêm de Deus; não propriamente que Deus nos mande; elas nascem da própria busca de Deus." (André Gide)
Sobre a solidão. "Nunca encontrei companhia mais sociável do que a solidão." (Thoreau)
Sobre a leitura. "Gosto de perder-me nas mentes de outras pessoas. Quando não estou caminhando, leio; não sei ficar sentado e pensar. Os livros pensam por mim." (Charles Lamb)
Sobre os livros. "Todos os livros se parecem por serem mais verdadeiros do que se tivessem acontecido realmente." (Hemingway)
Sobre a beleza. "A beleza é o acordo entre o sentido e a forma." (Ibsen)
Sobre a liberdade. "Liberdade, liberdade, / Abre as asas sobre nós." (Medeiros de Albuquerque).
Há pessoas que colecionam amores, notas de cem, carimbos de passaporte. Eu há muito coleciono frases que gostaria de ter escrito.
Sobre a felicidade. "Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente." (Erico Verissimo)
Sobre o passado. "É o futuro, usado." (Millôr Fernandes)
Sobre o futuro. "Tenho, às vezes, saudades do futuro." (Teixeira de Pascoaes)
Sobre a saudade. "Que me quereis, perpétuas saudades? Com que esperança ainda me enganais?" (Camões)
Sobre a paixão. "Nós só conhecemos as paixões dos outros, e o que chegamos a saber das nossas, é deles que pudemos saber." (Proust)
Sobre a sabedoria. "Deus conceda sabedoria aos que já a possuem e permita que os tolos se valham de seus talentos." (Shakespeare)
Sobre o tempo. "Perdido está todo o tempo que em amor não se gasta." (Tasso)
Sobre o amor. "Distante o meu amor, se me afigura / O amor como um patético tormento / Pensar nele é morrer de desventura / Não pensar é matar meu pensamento." (Vinícius de Moraes)
Sobre o pensamento. "Os pensamentos são tentações; são as que nos vêm de Deus; não propriamente que Deus nos mande; elas nascem da própria busca de Deus." (André Gide)
Sobre a solidão. "Nunca encontrei companhia mais sociável do que a solidão." (Thoreau)
Sobre a leitura. "Gosto de perder-me nas mentes de outras pessoas. Quando não estou caminhando, leio; não sei ficar sentado e pensar. Os livros pensam por mim." (Charles Lamb)
Sobre os livros. "Todos os livros se parecem por serem mais verdadeiros do que se tivessem acontecido realmente." (Hemingway)
Sobre a beleza. "A beleza é o acordo entre o sentido e a forma." (Ibsen)
Sobre a liberdade. "Liberdade, liberdade, / Abre as asas sobre nós." (Medeiros de Albuquerque).
17 julho 2008
Almoço no restaurante do Plazinha
Hoje, quinta-feira, dia 17 de junho de 2008, Helena, Simone e eu fomos almoçar no restaurante do Plaza Porto Alegre Hotel (Plazinha), aproveitando a vinda do Tesche à Porto Alegre. Foi uma pena que o Tesche não avisou sobre essa viagem com antecedência, pois teria sido legal se houvesse tempo para convidar outros colegas. Por coincidência, o hotel está completando 50 anos em 2008, assim como alguns de nós!
Como sempre foi legal conversar sobre assuntos que surgem nesses momentos de confraternização! Volto a convidar os colegas que vierem a Porto Alegre por quaisquer motivos que avisem antes, pois sempre podemos planejar algum encontro (almoço ou jantar) para colocarmos a conversa em dia!
Aproveito também para convidar a todos para o nosso "tradicional" almoço anual (pelo menos nos dois/três últimos anos) no Clube de Tênis de São Leopoldo. O local tem sido muito bom para almoços de confraternização, graças a localização, espaço e tranquilidade! Em princípio o encontro fica marcado para o dia 25 de outubro, último sábado do mês!
Abaixo estão as fotos tiradas hoje, no hall de entrada do restaurante!



Como sempre foi legal conversar sobre assuntos que surgem nesses momentos de confraternização! Volto a convidar os colegas que vierem a Porto Alegre por quaisquer motivos que avisem antes, pois sempre podemos planejar algum encontro (almoço ou jantar) para colocarmos a conversa em dia!
Aproveito também para convidar a todos para o nosso "tradicional" almoço anual (pelo menos nos dois/três últimos anos) no Clube de Tênis de São Leopoldo. O local tem sido muito bom para almoços de confraternização, graças a localização, espaço e tranquilidade! Em princípio o encontro fica marcado para o dia 25 de outubro, último sábado do mês!
Abaixo estão as fotos tiradas hoje, no hall de entrada do restaurante!




05 julho 2008
Uma situação que vivemos em 1974!
Crônica escrita por Moacyr Scliar e publicada no caderno "Vida" do jornal Zero Hora do dia 5 de julho de 2008 (sábado)
Meningite e democracia
Há trinta e cinco anos, o RS e o Brasil começavam a viver um dos mais sombrios e mais instrutivos episódios da história recente da saúde pública em nosso país. Em 1973, tinha início uma epidemia de doença meningocócica, que chegaria ao auge em 1974, e se manifestaria em várias grandes cidades brasileiras, deixando a população em pânico. Estamos falando de uma doença causada por uma bactéria, o meningococo, que provoca uma inflamação nas meninges, membranas que envolvem o cérebro. Pode ocorrer infecção generalizada, levando em muitos casos ao óbito. O tratamento, que se baseia principalmente no uso de antibióticos, já estava obviamente disponível, mas ainda não existia, no Brasil, uma vacina suficientemente testada. Isso explica o alarme que a doença despertava. Claro, muitas outras doenças infecciosas eram então causa de óbito, como a diarréia infantil, que matava milhares de bebês todos os anos. Mas a diarréia infantil não era novidade e era, sobretudo, uma doença de pobre, ao passo que a meningite não respeitava barreiras sociais e acometia muitas crianças de classe média, um processo facilitado pela crescente urbanização do país.
O Brasil estava então sob regime autoritário. Ao constatar que a doença não estava sendo controlada, que informações alarmantes apareciam todo o dia na mídia e que muita gente chegava ao desespero, uma decisão extrema foi tomada: proibiu-se a divulgação de notícias sobre a epidemia. E com isso tivemos uma experiência digna de figurar nos manuais de saúde pública.
A idéia das autoridades é que, com a censura imposta à imprensa, a calma voltaria às famílias. Aconteceu justamente o contrário. A ausência de informação gerou os mais descontrolados boatos. Um deles dizia respeito à transmissão da enfermidade. A doença meningocócica não é contagiosa: durante as epidemias a maior parte das pessoas abriga o germe na garganta, sem disso ter sintomas. Em alguns casos o meningococo penetrará na corrente sangüínea e causará a meningite ou outros problemas. Como as pessoas não sabiam disso - porque não se podia falar a respeito - ninguém se aproximava dos doentes. Num colégio de Porto Alegre estava sendo velado o corpo de um aluno falecido de meningite. Ninguém sequer se aproximava do caixão, por medo do contágio.
Finalmente, com a introdução da vacina (e também porque as epidemias naturalmente declinam) o pânico foi desaparecendo.
Mas a lição ficou. A lição política, mostrando que a pior democracia é melhor do que a melhor ditadura, e a lição de saúde pública. "A verdade vos libertará", dizem os Evangelhos, e isto vale também para a doença. A verdade, nestes casos, nos liberta dos temores e nos sugere o caminho para que tomemos medidas úteis, não baseadas no pavor. Em época de epidemia já basta o sofrimento causado pela própria doença. Não precisamos acrescentar a este sofrimento a pesada carga dos temores.
Meningite e democracia
Há trinta e cinco anos, o RS e o Brasil começavam a viver um dos mais sombrios e mais instrutivos episódios da história recente da saúde pública em nosso país. Em 1973, tinha início uma epidemia de doença meningocócica, que chegaria ao auge em 1974, e se manifestaria em várias grandes cidades brasileiras, deixando a população em pânico. Estamos falando de uma doença causada por uma bactéria, o meningococo, que provoca uma inflamação nas meninges, membranas que envolvem o cérebro. Pode ocorrer infecção generalizada, levando em muitos casos ao óbito. O tratamento, que se baseia principalmente no uso de antibióticos, já estava obviamente disponível, mas ainda não existia, no Brasil, uma vacina suficientemente testada. Isso explica o alarme que a doença despertava. Claro, muitas outras doenças infecciosas eram então causa de óbito, como a diarréia infantil, que matava milhares de bebês todos os anos. Mas a diarréia infantil não era novidade e era, sobretudo, uma doença de pobre, ao passo que a meningite não respeitava barreiras sociais e acometia muitas crianças de classe média, um processo facilitado pela crescente urbanização do país.
O Brasil estava então sob regime autoritário. Ao constatar que a doença não estava sendo controlada, que informações alarmantes apareciam todo o dia na mídia e que muita gente chegava ao desespero, uma decisão extrema foi tomada: proibiu-se a divulgação de notícias sobre a epidemia. E com isso tivemos uma experiência digna de figurar nos manuais de saúde pública.
A idéia das autoridades é que, com a censura imposta à imprensa, a calma voltaria às famílias. Aconteceu justamente o contrário. A ausência de informação gerou os mais descontrolados boatos. Um deles dizia respeito à transmissão da enfermidade. A doença meningocócica não é contagiosa: durante as epidemias a maior parte das pessoas abriga o germe na garganta, sem disso ter sintomas. Em alguns casos o meningococo penetrará na corrente sangüínea e causará a meningite ou outros problemas. Como as pessoas não sabiam disso - porque não se podia falar a respeito - ninguém se aproximava dos doentes. Num colégio de Porto Alegre estava sendo velado o corpo de um aluno falecido de meningite. Ninguém sequer se aproximava do caixão, por medo do contágio.
Finalmente, com a introdução da vacina (e também porque as epidemias naturalmente declinam) o pânico foi desaparecendo.
Mas a lição ficou. A lição política, mostrando que a pior democracia é melhor do que a melhor ditadura, e a lição de saúde pública. "A verdade vos libertará", dizem os Evangelhos, e isto vale também para a doença. A verdade, nestes casos, nos liberta dos temores e nos sugere o caminho para que tomemos medidas úteis, não baseadas no pavor. Em época de epidemia já basta o sofrimento causado pela própria doença. Não precisamos acrescentar a este sofrimento a pesada carga dos temores.
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